quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Comprando Calls



No nosso primeiro encontro que tivemos sobre opções, neste novel, mas já festejado, Blog Paladino na Bolsa, vimos, quase a exaustão, que as calls (opções de compra) conferem ao titular o direito (e não a obrigação) de comprar uma quantidade de ações a um preço predeterminado até (estilo americano) ou na data de vencimento (estilo europeu), ao passo que ao lançador, a obrigação de vendê-la nas mesmas condições.

Pois bem! Comprar e vender de calls são as estratégias mais simples no mundo das opções. Todavia, enquanto a literatura especializada aponta a venda de calls (na modalidade coberta), como estratégia para remuneração de carteira, a simples compra especulativa de calls não é muito bem recomendada. Não é à toa que dizem por aí que especular em opções é comprar ingresso para o cemitério dos malandros...

Dentre todas as operações com opções, a compra de calls parece gozar da preferência dos iniciantes, seja em razão da necessidade de menor capital empregado para montagem ou por mais se parecerem com as ações, em que se compra aguardando a sua valorização para posterior venda.
A despeito de a compra de calls, sob certos aspectos, assemelhar-se à compra de ações, nunca é demais repetir que, enquanto as primeiras podem ser mantidas em carteira indefinidamente, as opções inexoravelmente possuem prazo para exercício. Opções têm “prazo de validade” e a responsável por isso é a grega theta, que faz a opção baixar de preço com o decurso do tempo.
Como já vimos no estudo das gregas, theta representa a desvalorização do valor extrínseco de uma opção em razão da passagem do tempo. Em outras palavras, é o quanto o prêmio de uma opção se deprecia a cada dia, iniciando lentamente e assumindo perdas mais expressivas à medida que se aproxima do vencimento.
É intuitivo que só será interessante para o titular exercer a sua opção de compra se o preço de mercado estiver superior ao preço preestabelecido (strike). Assim, quem compra uma opção de compra tem a expectativa que o ativo subjacente se valorize para levar a efeito o seu direito de compra.
Quem compra uma opção de compra pode, todavia, optar por não a levar até a data de exercício. Tão logo o preço da opção atinja um valor superior ao que foi pago, o investidor pode fechar sua posição. Para tanto, pode negociar seu direito no mercado secundário de opções, vendendo idêntica quantidade de opções de compra da mesma série, embolsando, assim, o seu lucro. Mas, não fechar posição ou não exercer o direito no vencimento implicará a perda do preço pago pela opção de compra.
A compra de calls possui risco máximo limitado a 100% do valor pago pelo prêmio, daí os incessantes alertas de não se investir a totalidade de seu capital, mormente quando sabemos que o tempo é o maior inimigo desta operação.
Já o lucro máximo é ilimitado, vez que não existe teto para a valorização de uma ação, que, como já sabemos, é um dos fatores que influenciam no preço de uma opção. É aqui que muitos sucumbem ao escutar o canto da sereia de ganhos fáceis de 50%, 100% ou 200%, e compram opções com todo o seu dinheiro sem nem entender, ao menos, os riscos envolvidos.

Ao estudarmos o Moneyness das opções, vimos que as opções ITM são as que possuem prêmios mais elevados, o que, sem dúvida, implica maior risco, dada a necessidade de investir mais dinheiro para sua compra, considerando-se a mesma quantidade envolvida. Em compensação, são as que sofrem menor efeito de theta e que possuem comportamento mais parecido com o do ativo subjacente, não necessitando, assim, de forte alta para experimentar valorização. Quem compra opções ITM normalmente busca exercer seu direito.
Por outro lado, quanto mais OTM for uma opção, menos VE ela possuirá e menos o prêmio acompanhará as variações do preço do ativo subjacente. São, em compensação, as mais baratas. Todavia, dependem de alta muito forte para se valorizarem. É, sem a menor sombra de dúvida, a mais arriscada de todas.
Já as opções ATM revelam-se ser relativamente baratas, mas são as que apresentam maior valor extrínseco e, consequentemente, maior theta. No caso de o ativo subjacente não se valorizar, theta perderá valor consideravelmente. Em compensação, não precisa de alta forte do ativo subjacente para se valorizar.
Percebemos, assim, que quem compra opções de compra busca comprar baixo VE, sendo uma boa escolha as opções ATM ou levemente OTM e com certo tempo, ainda, para o vencimento.
Já vimos também que a cotação do ativo subjacente influencia mais as opções ITM do que as OTM, e que esta influência será menos percebida se o mercado estiver mais volátil e, da mesma forma, se faltar mais tempo para o vencimento da opção.
Lembremos que opções muito OTM possuem delta tendendo a 0%, as ATM em torno de 50% e as DITM possuem delta próximo a 100%. As opções ATM apresentam maior gamma, o qual se aproxima de zero para opções DITM ou muito OTM.
Vimos que, enquanto delta indica o que ocorre com prêmio de uma opção em razão da variação do preço da ação objeto, gamma representa a mudança esperada em delta em relação à variação de preço no ativo subjacente. Como se costuma dizer, numa simples metáfora, enquanto o delta representa a velocidade do preço da opção, o gamma seria a sua aceleração.


Próximo ao vencimento, as opções levemente OTM podem sofrer súbita elevação do delta. Assim, o que tendia a virar pó pode experimentar repentina escalada de preços, representando uma grande oportunidade para quem compra opções.
São os chamados “bilhetões”: opções com data de vencimento próxima e de preço baixo, mas que apresentam elevado gamma. Esta combinação pode provocar um comportamento explosivo no prêmio, desde que satisfeita a condição de o delta e o gamma serem, isoladamente, inferior ao seu valor intrínseco.
Perceba que o nome bilhetão não foi dado por acaso. São situações de tão diminuta probabilidade de ocorrência, e com um preço tão ínfimo, que se assemelha à compra de um bilhete de loteria.
Por fim, é importante ressaltar que, diferentemente do que muitos imaginam, as opções de compra não servem apenas como investimento meramente especulativo (simples compra e venda visando ao lucro), podendo serem utilizadas com outros objetivos “mais nobres”, tais como:
Alavancagem de Posição – Pagando-se apenas o prêmio, é possível controlar uma grande quantidade de ações.
Limitação de Riscos – Comparando o valor investido na compra de ações com o valor de idêntica quantidade de opções, vê-se que estas limitam o risco em razão da menor quantidade de exposição quando o preço da ação experimenta queda.
Planejamento de Compras Futuras – Quem acredita em alta da ação, caso não disponha de dinheiro suficiente no momento, ao comprar calls, fixa o preço para uma compra futura do ativo subjacente.
Proteção de Vendas – Pode-se também comprar calls para proteger as posições vendidas no ativo subjacente ou em opções da mesma ação, de forma a limitar o risco na venda no caso de alta do papel.
Na próxima oportunidade, analisaremos o Lançamento de Calls.
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O Leão e o Mercado de Opções
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